quinta-feira, 29 de novembro de 2012

Conheça um pouco melhor: Roberto Drummond

Em meio tédio de uma semana de molho do serviço, revirei as minhas coisas sobre o Atlético e achei um amontoado de revistas velhas e novas. Muitas eu nunca nem cheguei à ler, como uma pequena coleção de alguns exemplares da antiga Revista Galo "A revista do Clube Atlético Mineiro" . Ganhei estes exemplares de um grande amigo (Felipe Fonseca), desde então nunca tive tempo de ler. Mal eu sabia o que estava perdendo. 

Em uma das edições, me chamou à atenção uma entrevista feita com o saudoso escritor e alvinegro, Roberto Drummond. Infelizmente não consegui digitalizar as páginas para que vocês tenham uma melhor noção da revista, mas segue algumas fotos e em seguida, a reportagem na integra. 

É grande a matéria, mais compensador. Para que gosta deste grande escritor, é uma entrevista e tanto. Aproveitem:
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Como qualquer escritor que se preze, Roberto Drummond também provoca amores e dissabores. Alguns o amam, outros não, mas como qualquer grande personalidade , Roberto parece feliz com as reações que provoca. Mineiro desses de dormir abraçado coma bandeira do Estado, atleticano de doer os ossos quando o time joga, Roberto criou um estilo inconfundível em suas crônicas, romances e na sua prosa televisiva. 

"Essa coisa de virar personalidade é uma espécie de salvo-conduto de um cronista atualmente. Porque é difícil competir com ex-craques, treinadores e outros tantos que invadiram redações e tomaram microfones", assim analisa Drummond sua grande exposição como "personalidade". "Para competir de igual para igual, nós cronistas temos que dar autógrafos, sermos reconhecidos na rua. Senão é impossível competir com alguém que invade seu território por ser famoso", espeta o escritor.

Fazendo parte da longa galeria de mineiros apaixonados pelas letras, Roberto Drummond admite que ninguém ainda conseguiu colocar o futebol, com o seu merecido destaque e grandiosidade, num grande romance ou mesmo num conto. "Sempre que alguém tenta escrever sobre futebol, o apresenta de mandeira trágica. Mas o futebol brasileiro não é tragédia. É um futebol de alegria, de espetáculo, que seria um prato cheio para um grande musical, um grande filme ou um grande romance", comenta.

Ao contrário de muitos pessimistas, Roberto Drummond vê o futebol de hoje num momento altamente positivo. "Comparado a dez anos atrás, o futebol está muito melhor" considera. Contudo, o escritor acredita que somente com a transação para os clubes-empresas é que o futebol brasileiro realmente vai poder se comparar, no aspecto organizacional, às grandes ligas de outros países, principalmente as europeias. 

Autor de sucesso como "Hilda Furacão", Roberto Drummond não detém à tela pequena. É dele a história de "Bolero", uma super-produção que entra no embalo do nascimento do cinema nacional. Com novo romance nas livrarias - "O Cheiro de Deus" - Roberto ainda encontrou um tempinho para à GALO sobre uma de suas paixões, o mais amado de Minas, o Clube Atlético Mineiro. Saiba mais desse caso de amor a seguir:

GALO - Em que momento você virou atleticano?
Roberto Drummond - Eu virei atleticano num momento maravilhoso da minha vida. Porque a única coisa que eu mesmo escolhi foi ser atleticano. Não sei porque, mas foi assim. Eu era menino, em Santana dos Ferros (interior de Minas), e virei alvinegro por causa do Atlético de 1947: Cafunga, Murilo e Ramos, depois Osvaldo; Mexicano, Zé do Monte e Silva, que depois morreu tuberculoso; Carango, Afonso, Lucas, Lauro, Carlyle, Ler, depois Alvinho; e Niveo. Me tornei atleticano por causa desse time que eu ouvia, pela Rádio Inconfidência, através da narração do Paulo Nunes Vieira.

GALO - Você virou atleticano porque gostava de futebol, ou passou a gostar de futebol porque virou atleticano? 
Roberto Drummond - Não, eu virei atleticano porque eu já gostava de futebol. De jogar pelada na rua. Lembro que tinha um goleirinho lá, que toda bola que ele pegava levantava muita poeira, porque era bola de pano, e gritava: Eu sou o Cafunga! Eu sou o Cafunga! Por isso, o primeiro nome de jogador que eu ouvi foi o de Cafunga (Lendário goleiro do Atlético). Mas só descobri o Atlético, como paixão mesmo, quando passei a escutar as narrações do Paulo Nunes Vieira e do Jairo Anatólio, que estava começando naquela época.

GALO - Qual foi o seu primeiro grande ídolo no Atlético?
Roberto Drummond - Foi certamente o Carlyle, um grande atacante que tinha uma orelha só. Lembro que quando eu era menino, teve um concurso do Melhoral (remédio para resfriado) para eleger o melhor jogador do Brasil.Quando você comprava um Melhoral, você tinha o direito de votar. Mas eu consegui com o Assis, que trabalhava numa farmácia em Guanhães, as caixas de Melhoral que valiam cem votos. Mesmo assim o Carlyle ficou em quarto ou quinto lugar. Quem ganhou a eleição acabou sendo o Tesourinha.

GALO - Mas qual foi a primeira vez que você viu o Atlético jogar com seus próprios olhos e não através das narrações pelo rádio?
Roberto Drummond - Esse grande time que me fez ser apaixonado pelo Atlético, eu só ouvi pelas narrações do rádio. Mágicas transmissões do Paulo Nunes. Ao vivo, com meus próprios olhos, só vim ver o Atlético jogar na década de 50, quando o Ubaldo era quem fazia os gols do time. Foi decepcionante.

GALO - Por que foi decepcionante ?
Roberto Drummond - Pelo rádio, eu escutava um Atlético grandioso, aquele do final dos anos 40. Fantasiava junto com o Paulo Nunes Vieira. Mas quando eu vi o time jogar, já nos anos 50, o Atlético não tinha o mesmo brilho nem o mesmo encanto. A sensação foi como de um sujeito que espera uma mulher sonhada por 50 anos, Aí, 50 anos depois ele encontra a mulher e ela finalmente dá o sim que sempre havia lhe negado. Comigo e o Atlético foi a mesma coisa. Uma grande decepção. Esperei pela mágica que não existia mais. Acabei demorando para me refazer daquele tremendo choque.

GALO - Quando você conseguiu ver um jogo do Atlético e ter as mesmas emoções que tinha, quando garoto, ao escutar as transmissões pelo rádio?
Roberto Drummond - Aí foi só quando o Reinaldo (Lima) começou a jogar. Aquele time do Atlético que tinha Reinaldo, Cerezo e aquela turma toda.

GALO - Como você capta toda emoção de ser atleticano em suas crônicas ?
Roberto Drummond -  Eu vivi um momento mágico na minha vida, que me ajudou muito como cronista de futebol no "Estado de Minas". Fui assistir um treino do Atlético lá em Lourdes. Numa época que o clube ainda tinha o Zé das Camisas, as lavadeiras e a cozinheira, tudo de maneira mais simples. Aliás, naquela época do "Diário da Tarde" costumava publicar fotos lindas dos jogadores do Atlético na cozinha provando as comidas. Pois bem, neste dia as camisas dos jogadores estavam penduradas no varal para secar. Mas de repente começou a chover. Choveu tanto que interrompeu o treino e todo mundo saiu correndo para se proteger chuva. As lavadeiras se apressaram em recolher as camisas do varal, mas uma delas ficou lá, esquecida. Só uma. E o vento terntava derrubar a camisa do varal e todo mundo começou a torcer para que a camisa ficasse lá pendurada. Foi então que surgiu a frase que marcou minha carreira como cronista: "Se houver uma camisa branca e preta pendurada num varal durante uma tempestade, o atleticano torce contra o vento". Esta frase eu ouço até hoje em todo lugar que eu vou. Até em Amsterdã (Holanda), já escutei alguém dizendo esta frase para mostrar sua paixão pelo futebol e pelo atlético.


GALO -  Ser atleticano chegar a ser uma doença ?
Roberto Drummond - O atleticano é doente. Isso faz parte dele. Quase todo torcedor é doente. Mas o atleticano é mais doente que eles todos.

GALO - E o cronista esportivo tem que ser um doente medicado?
Roberto Drummond - Talvez medicado, mas veja, o torcedor de futebol, o leitor de futebol, quer que você diga para que time torce. Portanto quando eu declaro o meu amor ao Atlético, não significa que vá distorcer  a favor do meu time. Porque o leitor quer isenção. Eu sempre consegui isso no "Estado de Minas". Todo mundo sabia que eu era atleticano, mas sabia que eu elogiaria o maior rival do Atlético se preciso. Acho que o importante para haver comunicação é que o comentarista, principalmente o que escreve, diga para qual time torce. O que dá seriedade é ninguém fingir.

GALO - A crônica esportiva "clássica" está morrendo?
Roberto Drummond - Houve um momento na imprensa brasileira em que o melhor estava na crônica esportiva. Era maravilhoso ler o Mário Filho, que escrevia divinamente para o "Jornal dos Sports". O Nelson Rodrigues, irmão do Mário e maior teatrólogo brasileiro, também foi um grande cronista esportivo. Vargas Neto, que era um poeta gaúcho. José Lins do Rego, um dos maiores mancistas brasileiros. Max Rebelo, todos estes eram comentaristas junto com o Ary Barroso, o maior compositor brasileiro. Até recentemente, o melhor do jornalismo estava na crônica esportiva, isto desde Foz do Iguaçu até São Paulo. Mesmo hoje você ainda encontra grandes cronistas nos jornais.

GALO - Encontra mesmo? Quem são eles?
Roberto Drummond - Eles ainda existem, mas o erro é alguns jornais não dão o formato certo para a crônica de futebol. Veja bem, eu gosto muito do Rogério Perez (do "Hoje em Dia"), mas aquele formato não é bom. Mas também foi desastroso o formato dado ao Daniel Gomes (do "Estado de Minas") agora, na volta dele. Acredito que o formato ideal é o que o "Jornal do Brasil" tem dado para o Armando Nogueira, por exemplo.

GALO - A invasão dos jogadores de futebol na crônica esportiva dos jornais prejudica os "verdadeiros" cronistas?
Roberto Drummond - Nós estamos vivendo um negócio complicado. É que o craque de futebol, que já tinha chegado à televisão e ao rádio, agora está invadindo a área dos jornais. Só para citar alguns: Tostão, no "Jornal do Brasil" e "Diário da Tarde"; Dario no "Estado de Minas"; Reinaldo, em "O Tempo"; sem falar ainda no Telê Santana, na "Folha de S. Paulo". Acho ótimo, mas o leitor fica sempre em dúvida. Será que são eles mesmos que escrevem? Os craques acabam ocupando o lugar de cronistas, mas é uma bobagem, porque o leitor sabe distinguir. Porque o Tostão na televisão é muito bom, mas ler o tostão é uma coisa completamente diferente.

GALO - Mas o público parece gostar e parece pedir mais craques nas páginas dos jornais?
Roberto Drummond - O público não pede isso não, porque você não vê ninguém comentar em lugar nenhum o que eles escrevem. As pessoas podem comentar o que o Falcão, o Raul ou até mesmo o Tostão falaram na TV. Mas dar para esses craques da bola a camisa de cronista de jornal é o mesmo que dar para o Armando Nogueira a camisa 10 de um time de futebol.

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#PRACIMADELESGALO13

Thomás Santos - Siga-o no Twitter

Um comentário:

  1. É uma enorme emoção ser Galo, não sou Galo da Capital, mas sou Galo Carijo, TUPI, TUPI até morrer! Prazer em ler sobre o nosso Roberto Drummond!

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